quarta-feira, 6 de julho de 2011

FILHO DO LIXO





Deitado em meio a sacos de detritos, criando empatia com tudo o que foi dispensado:

O video cassete, o big mac pela metade, o gato morto decomposto. Tudo embrulhado em sacos pretos, de 30, 50 ou 100 litros...

Naquela situação poderia desejar um saco para esconder-me. Mas envolto em um saco preto não poderia ver algo diferente se movendo e grunhindo, logo adiante de meus olhos. Apalpando, percebo um formato humano envolto no saco preto.

Desesperado, rasgo o estranho embrulho. Olhos esperançosos me fitam, me agradecem chorando. No máximo um mês de vida, e de dois a três dias sem comer...

Será que fui levado ao lixo para me encontrar?
Ou encontrei algo que mudaria minha vida?
Sem pai, sem mãe, sem nome... Mas terá amor.
Vai gerar comoção, aparecer na televisão
Causará uma enorme fila para adoção.

Filho do Lixo, a razão de sua vida é vencer.
Enquanto isso, aqui eu descubro que gente que nada vale existe... que extirpa de sua vida seu próprio fruto como um excremento.
E descubro também que o descartado é valioso.
Simplesmente por não ser mais moda, utilidade ou prazer...

Pergunto: O que seria da vida das pessoas que jogam tudo fora sem as mesmas coisas há algum tempo atrás? O que seria de você sem mim, ao menos em algum momento?

Ok... Veja bem o que você faz com o que julga não prestar.
Entupindo os esgotos, causando enchentes, inundando suas casas, produzindo lama, atraindo ratos, trazendo de volta alguns detritos, dentre os quais, um saco preto que se move, milagrosamente.

É ele mesmo, seu filho que você acaba de jogar fora. Que se tornou filho do lixo por ser filho de um Lixo!

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